Panorama da resistência a antifúngicos e antibacterianos em microrganismos isolados de fontes ambientais no estado do Espírito Santo
Resumo: Embora a resistência aos antimicrobianos (RAM) seja um fenômeno natural e antigo, o uso indiscriminado desses compostos em diversos setores da atividade humana acelerou drasticamente sua ocorrência, principalmente no ambiente hospitalar. O uso de compostos com atividade antimicrobiana na medicina humana e veterinária, agricultura, produção de animais de corte, aquacultura, criação de aves silvestres, indústria etc., traz a RAM para o contexto global da Saúde Única (SU), especialmente impactante em países em desenvolvimento onde há carência de saneamento básico, fiscalização ineficiente do uso e descarte dos resíduos antimicrobianos que, por vezes, são lançados nos corpos dágua, contaminando solo, águas subterrâneas, córregos e rios, que por fim, afluem ao mar. O estado do Espírito Santo (ES) tem um grande potencial para emergência de micro-organismos resistentes, considerando a geografia do estado com rios, litoral, portos e montanhas com produção agropecuária importante no contexto nacional e internacional. Estado com vários pontos turísticos, recebendo pessoas do mundo inteiro, apresentando, também, uma estação portuária importante para o país. Preocupados com a disseminação de genes de resistência a antimicrobianos (AGRs) que tem se propagado por todo o mundo, o objetivo dessa proposta é traçar o panorama da resistência a antifúngicos e antibacterianos em micro-organismos isolados de fontes ambientais no estado do ES, a fim de subsidiar o desenvolvimento de estratégias para evitar ou retardar o surgimento da RAM e o possível carreamento de AGRs para o ambiente hospitalar. Para isso, serão selecionados dez municípios do estado (Vitória, Vila Velha, Guarapari, Viana, Cariacica, Serra, Fundão, Linhares, Santa Maria de Jetibá, Santa Teresa) onde serão coletadas amostras de i) matrizes aquáticas (praias com maior e menor movimentação de turistas, estação portuária, presença de foz, afluentes e efluentes), ii) solo a partir de áreas com grande atividade agrícola, principalmente cultivo de mamão, gengibre, uva, flores e pimenta do reino; iii) esterco de granjas; e iv) moscas domésticas (proximidade de peixarias, açougues e estercos). As coletas serão realizadas nas estações inverno e verão de 2024. Os micro-organismos de interesse serão cultivados e identificados previamente por métodos fenotípicos. Em seguida, a espécie será identificada acuradamente por meio de sequenciamento de DNA e espectrometria de massas, utilizando o MALDI-TOF. Todos os isolados pertencentes aos gêneros/espécies de BGN de interesse serão inicialmente submetidos à técnica de difusão em disco para 12 antimicrobianos de classes diferentes, de acordo com os documentos do BrCAST/EUCAST. Todos os isolados confirmados como resistentes às cefalosporinas de amplo espectro, carbapenêmicos, fluoroquinolonas e/ou aminoglicosídeos terão suas concentrações inibitórias mínimas (CIMs) determinadas pela técnica de diluição em ágar, exceto para as polimixinas, para as quais terão as CIMs determinadas pela técnica de microdiluição em caldo, de acordo as recomendações do BrCAST/EUCAST (2022). O teste de sensibilidade aos antifúngicos (fluconazol, itraconazol, voriconazol, posaconazol, isavuconazol, micafungina e anfotericina B) será realizado para espécies de Candida e Aspergillus, pelo método de microdiluição em caldo, de acordo com o documento M38-A2 e M27-S4 do CLSI. Os micro-organismos terão os diferentes ARGs triados por meio de PCR convencional, PCR multiplex ou sequenciamento de DNA. Os isolados bacterianos e fúngicos pertencentes à mesma espécie e carreadores dos mesmos ARGs serão investigados quanto a sua similaridade por Pulsed-Field (PFGE) para bactérias e Amplified Fragment Length Polymorphism (AFLP) para fungos, a fim de verificar se há disseminação desses genes no estado. Contudo, este projeto contribuirá para conhecer melhor a resistência de bactérias, Candida e Aspergillus a antimicrobianos, permitindo uma maior interação entre os gestores públicos, agentes de saúde e pesquisadores de cada cidade incluída no projeto. Além disso, favorecerá a troca de conhecimentos, potencializando a construção de ações que possibilitam a vigilância da resistência de micro-organismos à antimicrobianos nos hospitais do estado, visando melhorias em nível de saúde, evitando, assim, surgimento de surtos e epidemias.
Data de início: 01/05/2023
Prazo (meses): 48
Participantes:
Papel | Nome |
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Colaborador | SIMONE BRAVIM MAIFREDE |
Coordenador | SARAH GONCALVES TAVARES |
Pesquisador | KÊNIA VALÉRIA DOS SANTOS |